Definição

... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...
Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano VI Número 63 - Março 2014

Editorial

“In that ago when being was believing.”
W. H. Auden

Tarda... mas não falha: Dezembro TUDA Dezembro.

Salve companheiros.

Mesmo sem muito entusiasmo toca-se o barco,
que o barco tem que navegar - queria eu
que o mar me navegasse sozinho
como cantou Paulinho -
mas sou eu mesmo quem me navego, e não o mar.

Sou também eu quem me caminho
que a estrada desta vida não é rolante
não a da minha, ao menos, e exige, sim,
certo esforço e certa dedicação - por vezes muita.
os dá quem der
     quem quiser
          quem puder

Além dos já conhecidos pyndahýbicos, deste e de outros mundos,  esta TUDA aborda os temas do tempo e da perda, e homenageia Décio Pignatari e Oscar Niemayer, que partiram desta para uma melhor, ao menos é o que se espera - é o que todos esperamos, de uma maneira ou de outra, que uma ironia da vida seria a inexistência da morte - como sugeriu Saramago no seu Intermitências da Morte, uma bela e humorada metáfora sobre a necessidade da morte como elemento integrante da vida.

E como sempre, desnecessário dizer, TUDA traz muita coisa boa, e novidades também. Confiram na Dívida Interna.


QG de TUDA Dezembro
Untitled (2009), by Pathy Tshindele

É isso aí companheiros, na suja LabUTA do dia-a-dia, que embora seja suja para todos, há diferente tipos de sujeira, que se limpam com diferentes produtos, e muitas das quais com diferentes quantias... por exemplo, aqui nas Terras de Cima, Europa, também conhecida como Dorso da Mula do Capeta, numa das várias interpretações amalucadas ou não de Nostradamus, foi decretado que muita coisa vai mudar, e para melhor, nos terrenos do bem-estar social... depois que terminarmos de limpar a sujeira que os bancos fizeram, e que, coitados, não conseguem limpar sozinhos sem descapitalizar aquele pedaço de papel chamado moeda, que dizem ser tão importante mas que continuam a mal-usar.

Asyno Eduardo Miranda
o (auto-proclamado) editor
deste porto aimdaseguro da jlha do Eire
oje, nonº dia do dezº segunº mez
d este Anno Domini de MMXII

Dívida Interna

The Torture of Alonso Cano, by Théodule Ribot

Editor
Eduardo Miranda

Capa
José Geraldo de Barros Martins

Digitação
Eduardo Miranda

Revisão
dos autores

Participam desta edição:
Aboudia, Almandrade, Ari Cândido, Aristides Klafke, Arnaldo Xavier, Celso de Alencar , Cesar Cruz, Chéri Chérin, CrisVector, Décio Pignatari, Denise Freitas, Dorival Fontana, Eduardo Miranda, Georges de la Tour, Gilberto Nable, Horacio Cardozo, James Day, Jean-Baptiste Oudry, João Cabral de Melo Neto, José Geraldo de Barros Martins, José Miranda Filho, Luiz Roberto Guedes, Marina Alexiou, Marsha Heiken, Pathy Tshindele, Paul Henry, Pedro Du Bois, Pierre Putica, Raúl Lozza, Ronald Augusto, Roniwalter Jatobá, Santiago de Novais, Souzalopes, Théodule Ribot e W. H. Auden.

E-mail
tuda.papel.eletronico@gmail.com

Poesia - Arnaldo Xavier

Aboudia - HIMP (2012)
Collage, acrylic and crayon on canvas

(...)

37

(
)
(
)
(
)
(
)

38

tarde
um cálice
de poeira

39

Z

Z

Z


40

Bob Marley
Reggai
Por nós

(...)

Poesia - Souzalopes



Manifesto do Partido Comunista
em cordel
Anônimo de Souza

(...)

2 – O socialismo conservador ou burguês

A burguesia querendo
O seu poder conservar
Apela para caridade
E diz que vai melhorar
A vida de todo pobre,
A qualidade do ar.

Tudo aquilo que eles fazem
É miséria filosófica.
Fazem museus e escolas
Da ciência ecológica
Enquanto derrubam as matas
Com sua fúria catastrófica.

(..)

Poesia - Luiz Roberto Guedes,

Aristides Klafke - vulgo Mr. K

Mr. K is back in town

o poeta Mr. K está de volta ao seu pedaço de asfalto
o poeta andarilho que veio do mato, que morou na praia
o kid que roeu os anos 70s como poetal marginal em sampa
o poeta em trânsito que foi bater perna na gringolândia
e ficou beat, e depois de um tempo on the road virou

pintor e fixou estúdio no West Village, New York, onde
passou 20 anos, casado com uma ativista do Greenpeace
exceto pelo tempo que viveu nos Everglades, Flórida,
fishing and fucking com uma witch meio irlandesa, meio seminole
now Mr. K is back in town
um pé in New York, outro em Sumpaulo
onde something happens no seu coração
quando mira o Minhocão da avenida São João

Poesia - Ari Cândido

Poesia de boteco
Imagem enviada pelo autor - Paris (ou Brasil), 1979

Poesia - Celso de Alencar

Nature morte avec oiseux morts et cerises
Jean-Baptiste Oudry
Os Passarinhos

Por onde eu caminho
vejo passarinhos que morrem.
Eles caem das alturas,
caem das nuvens
mais escuras e morrem.
Ou simplesmente, pousam e morrem.

Não há canto, nem gemido
sobre os pedregulhos que guardam as almas.
Morrem os passarinhos
quando acordam as árvores.

Poesia - Gilberto Nable

The beach on Porto Seguro, by Pierre Putica

Improviso para Porto Seguro

Porto Seguro,
onde -- dizem --,
tudo teria começado.
Praia de Apuã -- ali aportamos.
Noite de lua cheia.
Minha filha disse:
-- Pai, vamos apagar a lua?
E fomos.
No istmo de Coroa Vermelha,
a lua se pega com a mão.
Mas não a apagamos.
Nessa luz amarela e triste,
com índios pataxós fumando,
o corpo também flutua.
Os pés fundos na areia
são pegadas de dinossauros,
sonhos sáurios de ovos,
desde o princípio do mundo.
Porque o mar ali tudo fecunda,
com seu sal e espuma.
O ambiente marinho doura
as ideias e as confeitam
como fazem os caramujos
em sagrados volteios
e na bela arquitetura
de uma concha vã
onde torcendo o som
e verberando em silêncio
guardam o rumor primitivo
esse misterioso rumor
do princípio da vida
de onde todos viemos.
E para onde voltaremos.

Mineiro de Aiuruoca, nascido em 1954, Gilberto Nable é médico em Belo Horizonte. O poema faz parte de O mago sem pombos (7 Letras, RJ, 2008)

Poesia - Santiago de Novais

Ilustração enviada pelo autor

meninos contra meninas
paramour 16x20


ros             aria a am  ada               com o                          deu
ma             riacídio de                     cida o                           bem
car             me   lo de doce            o                                   amargo
des            com     sol                      ada  de                        todas
aju             dadora                         de                                  mães
 belz          abel                                 se                                 afaste!
seria amada ou o doce com sol? 
jua            um  sem mão                nem não                      pra dar
sob           revivi                               em                               centos
and           aluz                                sem mover                  luz
tal            círio                                de                                  procissão
ino           cente de                         tutano e                       
iac            ov o                                profeta                         ou profecia!
  sem mão vive da luz decente como o ovo?

Poesia - Dorival Fontana

Chéri Chérin - Que nous réserve le 21ème siècle? (2006) - Oil on canvas

Século XXI

Paraíso moderno
em retrocesso.
Loucos intelectos
refazem o progresso,
reciclam a miséria,
perecem, perecem...
Marcham e dançam
a dança da guerra,
no mesmo compasso
da última prece.

Pesadelos urbanos.
Repetidos enganos
de um mundo novo.
Gênios e tolos.
Deuses insanos.
E tantos valores.

Fome, sangue e fogo.
Seringas, sirenes e soro.
Suor, dor e aborto.
Pó branco e de ouro.
Amor unissex.
Amor preservado.
Sintético látex.

Pesadelos urbanos.
Repetidos enganos
de um mundo novo.
Gênios e tolos.
Deuses insanos.
E tantos valores.

Poesia - Pedro Du Bois

by Raúl Lozza
Redundância

A redundância cerca as palavras
e as multiplica contra a vontade
de quem as pronuncia: o som
estende o lapso ao final da frase
e o verbo – deslocado na ação –
é entronizado em verdade. Contemplo
o espectro e no desdouro das cores
reparto o sim e o não na ubiquidade
reportada ao desconsiderado.

Retiro cada palavra dos cantos
inseguros do discurso e desço
a escadaria.
Saio antes que acordem.

Poesia - Marina Alexiou

Ilustração enviada pela autora


Os braços do bailarino giram a acompanhar o labirinto de uma incessante melodia cósmica

A partitura é escrita nas pedras de outrora e suas notas constituem-se na disposição do coral celeste que ainda vibra, a cantar...

Imagens são produzidas nos rodopios dos seus membros em torno do eixo que é também aquele que sustenta a dança dos céus

Qual um túnel repleto de odaliscas, que se apresentam nervosamente e com excitação nessa festa opulenta de tesouros e convidados,

Com as mais imprevisíveis e belas cenas, cores e brilhos ofuscando aquele pequenino espaço onde os pensamentos habitam.

Seus olhos, então, se fecham. E uma viagem rumo ao início da vida se inicia em obediência ao seu bacante coração

O circulo se alarga e o som se distancia numa vagueza singular. O luxuriante dançarino se descobre rei de um palácio de morna claridade oceânica, cujas profundezas não o assustam mais...

Ele sorri e assenta em seu trono, tão fugaz quanto a duração dos ditirambos. Apesar disso, a memória irá provê-lo da duração dessa riqueza sensorial que não caberia em uma única tenda, pois pertencente a infinitos clãs....
Essa dança vai, assim, se somando a tantas outras, e aos poucos, como um tapete, ganhará os contornos e desenhos que formam a história do seu desejo mais íntimo, pela revelação da sua própria alma .

Poesia - Almandrade

Santa Claus, by CrisVector

Poemas de Natal

Natal

Uma voz nua
canta o sentimento
conversa de natal
a solidão
nos contempla
somos habitados
pela música
da noite.



Noite de Natal

Atrás da canção
uma grande lua
a estrela da festa
sinos da madrugada
que ninguém mais
escuta
despertam
lembranças distantes.



Uma foto do Natal

No ar
a coreografia
de uma flauta
antigas velas
ainda acesas
velhas ceias
em preto e branco
esperando
a madrugada
e a festa
...
O natal se arrasta
Lentamente.

Crônica - Roniwalter Jatobá

Le souffleur à la lampe, huile sur toile
Georges de la Tour

Lanterna mágica

Olho a minha rua sossegando no fim da tarde. Chegam as primeiras sombras da noite.

De repente, uma pane afeta o sistema elétrico no prédio e o bloco residencial na Rua São Carlos do Pinhal fica às escuras. Usando o jargão dos técnicos, também o meu apartamento sofreu uma “interrupção temporária de energia”.

Diferente da noite que caía devagarinho, a falta de luz me pegou de surpresa. O apartamento em instantes perdeu a total luminosidade e o meu mundo particular foi tomado pela escuridão. No início, ainda atônito, fiquei sem reação. O que fazer? Nem o telefone -- modelo moderno, sem fio e com secretária em língua inglesa --, dava sinal de vida.

Deito no sofá. De longe vem o barulho de automóveis na Avenida Paulista. Atento aos movimentos, escuto os gritos da vizinha no piso de cima. Sua filha chora lamurienta. Ouço ainda a voz do marido e, logo depois, seus passos na escada. O portão da entrada bate. Ele senta no jardim detrás do prédio. Pela janela, acompanho seus gestos pelo clarão do isqueiro ao acender um cigarro atrás do outro.

Esqueço a rua. Igualzinho a um cego, levanto. Tateio pelo apartamento até a cozinha em busca de uma caixa de fósforos. Volto. Na prateleira da sala, as mãos encontram um toco de vela acoplado num rústico castiçal.

Uma hora depois, chega a energia elétrica e tudo volta ao normal. Mas, remando contra a maré, insisto na escuridão. Desligo as lâmpadas e, à luz de vela, penso na infância.

Era diferente a luz daqueles tempos. Fraca, vaga-lume, de tonalidade amarela, parecia cair dos postes de madeira. Gerada em motor a diesel, clareava Campo Formoso das seis às dez da noite. A partir daí, voltava a escuridão, a mesma do início do mundo.

Muitas vezes, o velho motor pifava. Eram horas em que todos ficavam sem os acordes da Ave-Maria, ao cair da tarde, e em seguida os boleros, tangos e sambas-canções tocados pelo serviço de alto-falantes da Rádio do Benigno. Nessas noites, voltava para casa com cuidado e tateando o chão com o bico do sapato, nas ruas esburacadas.

Foi aí que lembrei também de uma lanterna. Além de velas e candeeiros, mas que apagavam com qualquer brisa, uma das fontes mais seguras de luz para sair às ruas de Campo Formoso eram lanternas que funcionavam à bateria. Para ser mais preciso, eram duas pilhas daquelas compridas também usadas em rádio.

Quase todo mundo tinha seu farolete, que na escuridão alumiava vias cobertas de terra ou paralelepípedos. Presente de pai, a minha lanterna era especial. Ao contrário da maioria, sempre branca ou cor de alumínio, o primeiro farol de minha vida era coberto de brilhante tinta vermelha, que resplandecia no escuro. Quando o pai me entregou o aparelho comprado em São Paulo, disse, repetindo duas vezes:

-- Nunca jogue o foco na cara dos passantes, nem alumie cantos onde se alojam casais de namorados. É feio.

Faz bastante tempo. Mas recordo que nunca obedeci fielmente a máxima recomendação paterna. Nas noites de Campo Formoso, quando imperavam as trevas, quem poderia controlar as mãos de um menino curioso que se guiava por uma lanterna mágica?

Conto - José Geraldo de Barros Martins

Ilustração de José Geraldo de Barros Martins


A Sereia Vesga Do Mar Do Engôdo

Itacyr de Souza e Barros caminhava melancólico pela areia de Copacabana, vindo de mais uma noitada de trabalho. Trajando um elegante “summer jacket”, parou de repente defronte ao oceano, ajeitou o trombone que trazia indolentemente, e começou a tocar o bolero “Frente al Mar” de autoria de Marianito Mores e Taboada.

A medida que a melodia evoluia, o nosso protagonista começou a perceber uma luminosidade estranha vinda das águas… primeiro percebeu um rochedo surgir do império de Netuno, depois sobre a referida rocha, notou a figura de uma mulher linda, porém metade peixe “Meu Deus, não acredito… é uma sereia!!!” pensou…

- Sim, sou mesmo… você nunca acreditou que seres como eu existissem???

- Não sei… sei lá… é muito complicado… Respondeu Itacyr um tanto quanto titubeante, emendando logo a seguir: – Eu já li sobre algumas lendas: o Boitatá o Saci, o Negrinho do Pastoreio a Mula sem

- Esqueça – interrompeu a beldade marinha – estas criaturas pertencem ao folclore… eu não… eu surgi em 1956, através de uma figura de linguagem de um poema que se materializou na minha pessoa. Eu sei de muitas coisas, inclusive o motivo de sua tristeza… é por causa daquela que é o grande amor da sua vida e nunca te deu bola.

- Poxa… é mesmo…

- Então… vamos fazer um trato você grava uma música usando a poesia da qual surgi, que a mulher que você tanto deseja virá em um piscar de olhos…

- Mas por que você precisa que o poema seja musicado??? Perguntou o nosso amigo estarrecido.

- O poema que te falei, chama-se “O Ataque do Poeta a Copacabana” de autoria de Paulo Gomide, e quase ninguém se lembra dele… no dia em que for totalmente esquecido eu desaparecerei… porém se alguém musicá-lo eu poderei viver por muito mais tempo… e a música será um sucesso, garanto…

- Gozado , meu pai sempre me falou de um cara com este nome que dava aula de bússola mental , que só tomava taxi preto com motorista português , que levava sete malas para passar uma só noite no Copacabana Palace , e que …

- É este mesmo – interrompeu novamente a nossa protagonista – Trato feito ???

- É claro …

- Só mais uma coisa … no dia em que sua querida se apaixonar por você ela se tornará vesga …tudo bem ???

- Tudo bem . – Respondeu Itacyr percebendo que a sereia também era estrábica .

Deu-se o combinado, o trombonista depois de algum esforço, conseguiu achar em um sebo, o livro “Rio de Janeiro em prosa e verso”, editado em 1965, que continha a poesia supracitada; musicando-a. A gravação fez enorme sucesso, a dama dos sonhos do músico repentinamente se apaixonou pelo rapaz e começou a apresentar sinais latentes de estrabismo, e a sereia continua feliz e radiante.

Aqui vai o poema que deu origem a estória:

Ataque Do Poeta A Copacabana

Que fim levaram teus cajueiros

Que perfumavam a areia clara,

Copacabana de maconheiros

E paus de arara?

Sereia vesga do mar do engôdo,

Maré-me-leva, maré-me-traz,

Por quem patinas no asfalto o lôdo

Dos conformismos sentimentais?

Ó polinésia de vigaristas.

Esgôto escuso de tantos ais,

Não te envergonhas de tuas conquistas

Tabela-Price?

Não te envergonhas das tuas vergonhas

Poluindo o oceano de tuas manhãs?

Não te envergonhas dos sem-vergonhas

Que te entulharam de cortesãs?

Nossa Senhora dos Condomínios

Que maus presságios andam aos ventos

Da grande praia dos lenocínios

E apartamentos…

De forte mesmo, só resta o forte

Da bela imagem, que o resto é mangue

De vidas podres vendendo a morte

Financiamentos de amor e sangue.

Nossa Senhora do Lago Andino;

Por teu menino, tua candeia,

Lava este bairro do mau destino

Que o lisongeia.

( Paulo Gomide )

Conto - Luiz Roberto Guedes


Perpetual Blue, by Horacio Cardozo
O romance segundo a mulher do escritor

Meu amigo escritor gosta de se casar quando se apaixona. Sua nova mulher é a quarta companheira em nove anos. A mulher do escritor tem olhos grandes, boca sensual, sorriso de estrela de cinema. Ela me lembra alguém que não é ela — alguém que devo ter visto numa tela. A mulher de meu amigo tem seios pequenos, coxas robustas e ancas ondulantes. A mulher do escritor tem uma barriguinha venusiana e uma bunda pneumática, delineadas sob o vestido fino. A mulher de meu amigo tem delicadezas para comigo.

A cada encontro, a mulher do escritor abre uma página em branco, dá mais um passo à beira de uma história. Cada gesto seu transparece plena ciência do efeito de sua beleza sobre mim. Na noite de outono, no jardim sob a lua, em meio ao ruído da festa, a mulher de meu amigo deixa deslizar a mantilha, reluz seus ombros nus. Seus olhos grandes são lagoas hipnóticas. Agora avançamos para o começo de nossa história.

Só posso desejar ao meu amigo escritor toda a felicidade em seu próximo romance.
(in “Dez Romances Breves”, contos de Luiz Roberto Guedes, edição
Katarina Kartonera, Florianópolis, SC, 2010)

Crônica - Cesar Cruz

Scrambled eggs and ketchup, by Marsha Heiken

Meus Ovos Incluídos!

– Onde estão os ovos mexidos? – perguntei pra mocinha que repunha as frutas e os
pães no bufê do hotel.
– Posso preparar para o senhor, só que é cobrado à parte.
– O quê? Eles não tinham que estar bem aqui, disponíveis e incluídos?
– Não sei dizer, senhor, são ordens.
– Nunca vi isso, que absurdo! E custa quanto?
– Não sei não senhor, isso é só na recepção.

Pedi meus ovos mexidos e o número do meu quarto foi anotado num papelzinho.

Nos demais dias em que ficamos hospedados ali, no Cigarras Praia Hotel, em São Sebastião, litoral norte aqui de São Paulo, eu, minha mulher e minha filha comemos mais alguns desses incríveis ovos pagos, de preço misterioso.

Engraçado observar que o brasileiro não assumiu esse hábito americano de comer ovos pela manhã, mas quando está em hotel, ah, aí não abre mão! Faço parte do time. Como ovos toda santa manhã, desde que nasci. Mas só em hotel. Não vivo sem meu ovo de hotel.

Dias depois, enquanto a recepcionista fechava minha conta, provoquei:

– Priscila, não sei se você sabe, mas tem uma quadrilha querendo cobrar os ovos no café da manhã, acredita?
– São cobrados mesmo, seu Cesar. É que não temos ovos em nosso cardápio.
– Isso não existe, Priscila. Ovo incluído é obrigatório em hotel que nem colchão e vaso
sanitário, deve estar até do estatuto da associação. E eu me lembro bem de ter comido ovos incluídos aqui da vez anterior.
– Seu Cesar, lamento, mas nunca tivemos ovos incluídos.
– Priscila, qualquer hotel cheio de baratas, só com água fria no chuveiro, lá em Quixeramobim, tem ovos incluídos.
– Nossos ovos são à parte, é regra da casa.
– E o melão?
– Que tem o melão, seu Cesar?
– É à parte também?
– Não, o melão é incluído.
– Priscila, me ouve: isso não tem a menor lógica. Vocês deveriam cobrar é o melão, que é caríssimo. Melão eu pagaria à parte sem reclamar, com orgulho e honra!
– Lamento, seu Cesar, mas o melão o senhor não vai pagar, é incluído.
– Pois eu me recuso a pagar por ovo! Pronto. Não é pelo valor, é pelo desaforo.
– Infelizmente terei que cobrar, seu Cesar.
– Você sabe o que eu fiz nesses 6 dias, Priscila, só de pirraça?
– Não, seu Cesar, o que o senhor fez?
– Comi dúzias de fatias de melão, bem grossas. Ouviu isso, Priscila? DÚ-ZI-AS!
– Não tem problema, seu Cesar. O senhor pode ficar à vontade. O melão é incluído.
– Eu não acredito... E você vai me cobrar quanto por cada ovo?

– São dois reais cada um.
– O quê?! Dois reais?! Priscila, francamente, com dois reais na feira eu compro uma
dúzia de ovos...
– Seu Cesar, é o preço, são dois reais cada ovo.
– Então quero nota fiscal desses ovos!
– Não tem problema, faço a nota.
– Da próxima vez vou trazer meus próprios ovos, Priscila, fritar lá no quarto e descer
com eles pro café.
– Se o senhor fizer isso eles vão cobrar do senhor dois reais por cada ovo que o senhor
fizer no quarto.
– Priscila, não me provoca...! Nas férias do ano que vem vou trazer 50 dúzias de ovos
na mala, e a cada manhã vou oferecer pros hóspedes no café. A 1 real cada um, e com presunto e pedacinhos de tomate! Vocês não vão poder competir comigo.
– Mas seu Cesar...
– Não vou pagar!
– Infelizmente, seu Cesar...
– Priscila, é sua última chance, se vocês insistirem em me cobrar esses malditos ovos, faço uma crônica e publico em dois jornais, quatro sites e ponho no meu próximo livro!

(insistiram)

Conto - José Miranda Filho

Not just another night in the city (Recife)
by Francisco Cribari

Encontro de Amigos - Parte 13

Mr. Foster mandou-me um e-mail dizendo que estaria em Recife no dia 25 de março e que ficaria na cidade até a primeira semana de abril. Vinha participar de um encontro de folcloristas em Olinda e Recife.

Voamos para Recife e fomos ao seu encontro, já que minha mulher é apaixonada por este assunto e também teríamos a oportunidade de rever os velhos amigos que marcaram muito nossas vidas.

Chegamos a Recife no dia 25 pela manhã, para fazer-lhes surpresa. Na hora aprazada estávamos no hotel à sua espera. O encontro foi agradável e cheio de emoção. A tarde estava ensolarada e o ar seco e quente. Mr. Foster vestia um terno de linho irlandês branco e uma camisa de seda amarela para suportar o calor daquela tarde em Olinda. Madame Anne não lhe acompanhou nesta viagem. Falamos de tudo e de todos e um pouco mais. Participamos com ele de todos os eventos em Recife. À noite Mr. Foster seria agraciado com o título de Cidadão Recifense pelos excelentes serviços prestados à cultura e ao folclore da cidade. Homenagem outorgada pela Câmara Municipal, de autoria do Vereador Severino de Araújo. Dizem até que ele tem a cara de Recife. Fala fluentemente o português. Ele é realmente muito especial, simpaticíssimo, muito alegre e divertido. A seção solene na Câmara Municipal foi prestigiada pela sociedade local. Várias autoridades estiveram presentes, inclusive o Governador, que num discurso emocionante exaltou as qualidades do homenageado, tendo sido bastante aplaudido. Em seguida o autor do projeto de outorga do título de cidadão recifense ao Dr. Smith, também usou da tribuna e enalteceu a vida e a dedicação do homem irlandês que tornou Recife conhecida lá fora.

Na primeira quinzena do mês de abril, exatamente no dia 14, embarcamos para Dublin.

Foreign Words - João Cabral de Melo Neto


The Clock
translate by Eduardo Miranda

Around a man's life
there are certain glass boxes,
within which, like in a cage,
one hears an animal beating.

If they are cages is not sure;
they are more like coops
at least in their size
and their quadratic form.

Sometimes, those coops
go hanging on the walls;
other times, more privately
in a pocket, in one's wrists.

But anywhere: the coop
for male bird or female bird:
it is winged the palpitation,
the saltation it holds;

and it's songbird,
not plumage like:
because a lament comes from them
of such continuity

O Relógio

Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.

Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quadradiço de forma.

Umas vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.

Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;

e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade

Releitura - Décio Pignatari

"Eu amo você/Você me ama/Tal qual/Etc."
Décio Pignatari
Décio Pignatari (Jundiaí, 20 de agosto de 1927 – São Paulo, 2 de dezembro de 2012) foi um advogado, poeta, ensaísta, contista, romancista, dramaturgo, publicitário, professor e tradutor brasileiro. Publica seus primeiros poemas na Revista Brasileira de Poesia, em 1949. Em 1950 estréia com o livro de poemas, Carrossel, e em 1952 funda o grupo e edita a revista-livro Noigandres, com os poetas e amigos Haroldo de Campos (1929 - 2003) e Augusto de Campos (1931). Em 1956 o grupo lança oficialmente o movimento de poesia concreta durante a Exposição Nacional de Arte Concreta no Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP. Ainda em 1956, o grupo lança o Plano-piloto para Poesia Concreta, síntese teórica de seu trabalho poético, traduzido em diversas línguas. Em 1965, ainda com Haroldo e Augusto de Campos, lança o livro Teoria da Poesia Concreta. Em 1969, ajuda a fundar a Association Internationale de Sémiotique - AIS -, na França, e em 1975 participa do lançamento da Associação Brasileira de Semiótica - ABS.

Ilustração - Oscar Niemeyer

Museu de Arte Contemporânea de Niterói
Projeto de Oscar Niemeyer

Ilustração - Paul Henry

The Road to Coomasharn, County Kerry

A Prayer for the Departed

Paul Henry (11-4-1877, 24-8-1958) foi um artista irlandês famoso por representar paisagens do Oeste da Irlanda com um estilo pós-impressionista.

Ensaio - Denise Freitas e Ronald Augusto

Ilustração enviada pelo autor

Desde o título, Tambores pra n’zinga[1], até o que, feito um farfalhar de sentidos, se desprende dos poemas enfeixados entre suas capas – poemas que, às vezes, “dizem” mais o rumor de um discurso do que uma música em devir – nos tornamos mais ou menos cientes do que o livro de fato comunica? Não. Pois o que se dá e o que não se dá pelas forças das relações estabelecidas, o que não cabe durante nem após a expedição de conquista da leitura, enfim, mesmo ao afortunado intérprete a quem os sentidos de Tambores pra n’zinga se presentificassem na figura do compreensível, o que a linguagem de Nina Rizzi comunica, felizmente, é muito pouco. Em poesia a coisa que interessa não diz respeito à comunicação, o que vale a pena nesse jogo jamais é enunciado.

Mas tudo isso representa uma parcela dessa interpretação que se precipita agora mais para as senhas requeridas ao apetite do impreciso. A propósito disso, a pluralização dos advérbios quando e quase e do pronome indefinido tudo, que servem para intitular as três seções em que se divide o volume, intensifica essa percepção de Roman Jakobson – na abordagem do fenômeno poético – segundo a qual “a ambiguidade se constitui em característica intrínseca, inalienável”[2] da poesia. “Quandos”, “Tudos” e “Quases”: tradições e poéticas em anamorfose, e também tempos e espaços.

Por outro lado, o que nos revelaria a busca pelo preciso em Tambores pra n’zinga, a busca pelo signatum (o aspecto inteligível do signo) que diz os seus nomes? Antes cabe lembrar que o conteúdo (plástico e maleável como o desenho de uma ideia) é uma função da forma, essa linguagem de poucos instantes em situação de poema. EmTambores pra n’zinga o leitor usufrui de ritmos vários. Já nos títulos dos poemas a apresentação de rondas, árias, cantigas, baladas, pastorais, solos, adágios, sambas, jongos, maracatus, formam algumas das referências musicais presentes na obra. Fundamentais para qualquer ritmo (o que imediatamente os inscreve dentro das fronteiras da poesia), alternância de batidas, permuta entre acentos fortes e fracos, momentos de tensão e suavidade, capricho e descaso são levados a efeito por Nina Rizzi em sua recente publicação. Muito bem, a persona de Tambores pra n’zinga se autoproclama “mediterrâneo-africana”. Seus poemas que alternam e alteram (a sonoridade diz respeito ao verbal) essas formas musicais inventam um feminino mais metonímico que metafórico, mais revolto que revoltado; e a cobertura do livro, comoparatexto, iconiza à maravilha tal propósito.

Dentre outras características a destacar encontra-se a consciência da oscilação, inerente mesmo ao próprio som e que se estende para o texto. A autora sabe que pouca coisa sobra de espanto em oposições e contradições, pois há bastante tempo elas denotam peculiaridades indistintas da condição humana, assim, sabe também que não as poderia negar; mas as dispõe sem novidade, quase as buscando numa ideia de passado suficientemente conhecido e até mesmo repetido: “transbordam em mim reminiscências:/ águas que me secam, redundâncias de me sentir (...)”[3]. Nina reconhece, ainda, os limites da multiplicidade contida na acepção da controvérsia, e o faz quando salienta “(...) ninguém chega a ser dois nessas andanças”[4].

Entretanto, certo estranhamento discursivo, a inutilidade fruível da materialidade textual e os escapes intertextuais levam Nina Rizzi a versos desobedientes, a um, por assim dizer, “sentido último” do que quer que seja. Alguns excertos: “no peito, aquela coisa de moer cana”[5]; “sou grande, todo o largo./ imensa pra qualquer canto”[6]; “o alicate revela o ar cansado, hostil”[7]; “só um gosto malamaiado, doce/ das coisas primitivas”[8]. Sem pretender antecipar o trabalho do leitor, Nina Rizzi opera nos poemas suas próprias explicações sobre o que acabou de sugerir, só que para isso serve-se de uma incompatibilidade entre as metáforas; nem a primeira sentença se resolve, nem a segunda, pois a explicação presta-se mais à divergência do que à composiçãoharmoniosa do sentido, a primeira estrofe do poema “composição cor de wiskhi à zero hora” caracteriza essa situação, “há dias em que ela se derrama sobre mim/ como se estivéssemos grudadas, uma sombra na água ou pedras nos rins(...)”[9].

Depois da falsa certeza do auxílio, a licença. Num dos poemas a autora assevera “(...) é outubro e eu danço pra mim”[10]. A aparência do descarte, ou da dispensa do público e, por conseguinte, do leitor e de suas expectativas, contraria o lugar-cristalino (aparentemente alargado pelas publicações de poesias cada vez mais inconsistentes, para dizer o mínimo) da poesia como extensão daqueles velhos conhecidos de todos, os sentimentos. Apesar de carregar boa dose de intimismo, não o faz de maneira passional ou cedendo aos humores irrefletidos, esses que são parte da causa da arte ter sido circunscrita na esfera contemplativa e emocional do prazer, e afastada da reflexão. Aqui, furtamos de Paul Valéry a afirmação de que “a obra de arte me dá ideias, ensinamentos, não prazer”[11].

Todos esses traços construtivos que, em fim de contas, fazem menção tanto aoficto quanto ao histrio (fingidor, ator de mimos), pois simulam e jogam com a representação e o representado, se projetam, na dicção de Nina Rizzi, sobre a convenção do hister-o (do gr. hustéra,as “útero”), delimitando-lhe nova faixa de leitura. Isto é, graças à consciência de formas e de linguagem, Tambores pra n’zinga consegue acrescentar uma importante disrupção nessa restritiva “poética do feminismo” que, em muitos casos, só tem servido para sustentar uma espécie de apologia histérica da literatura de viés meramente reativo à naturalização da misoginia no interior dos cânones.

[1] RIZZI, Nina. tambores pra n’zinga. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2012.
[2] JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. São Paulo: Editora Cultrix, s/d. p. 128.
[3] RIZZI, Nina. Op. cit., p. 45.
[4] Id. Ibid., p. 74.
[5] Id. Ibid., p. 60.
[6] Id. Ibid., p. 55.
[7] Id. Ibid., p. 88.
[8] Id. Ibid., p. 91.
[9] Id. ibid, p. 48.
[10] Id. ibid, p. 56.
[11] CAMPOS, Augusto. Paul Valéry: a serpente e o pensar. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984. p: 77.

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